14.8.04

Arte/debarte - nóis, cachorros que só late.

arte do Lat. arte s. f., conjunto de preceitos ou regras para bem dizer ou fazer qualquer coisa; tratado, livro que contém esses preceitos; artifício; ardil; faculdade; talento; habilidade; ofício; profissão; indústria; diabrura.


debate s. m., discussão; altercação; disputa; questão; contestação.


debarte - nóis, cachorros que só late.


Os participantes da mesa, no lançamento da revista Arte e Ensaio no Centro HO (Hélio Oiticica) no Rio de Janeiro, conclamaram o público ao debate. Não houve muitas vozes e Glória Ferreira encerrou, com esta estranha constatação de que ao se abrir o debate, ele não acontece, ao não se abrir, as pessoas reclamam. Saí extremamente incomodada.

Quem quer realmente o debate? Artistas querem o debate? Curadores querem o debate? Quem quer mudança? Quem se envolve, quem doa tempo?

Começando pela organização espacial e arquitetônica a que somos submetidos, ainda nos organizamos para estes eventos em salas com tablados, uma fileira mais alta para os especialistas convidados e filas de espectadores que não se olham, ao estarem sentados voltados para frente, lado a lado. Neste caso, continuamos com os pedestais e as molduras.

O que poderia ter sido dito ali? Podíamos ter falado do que está acontecendo na Rio Arte? Do encerramento das bolsas da prefeitura para os artistas, logo após o evento Guggenheim? Alguém falou disto? Do resultado dos doze dias de debates da Funarte (Projéteis de Arte Contemporânea) onde falou-se de praticamente todas estas questões, com 36 debatedores e 50 horas de gravação? Da criação de um núcleo independente de Artes Visuais na mesma Funarte e suas eventuais consequências? Do Panorama? Do Mapeamento? De menos de 1% do orçamento do governo para cultura? Da dimensão surreal que vivenciamos ao montar uma exposição em uma instituição pública? Da postura destas instituições de que abrir o espaço é mais que suficiente? Do pró-labore dos artistas que não existe ou é irrisório? Da Brasil Connects? Da Lei Rouanet e suas mudanças? Todos participam das mudanças? Da imprensa, que limita a informação sobre os eventos da cultura, diariamente, conforme as sobras de suas páginas? Da ausência de um mercado que absorva a produção brasileira no Brasil? Do neo-liberalismo no mercado? De arte/ estado, arte/educação, arte experimental, arte/ação? Da exaustão a que estamos constantemente submetidos pelos nossos trabalhos paralelos que nos sustentam? Das reuniões que eventualmente conseguimos fazer este ano apesar do pouco público? Dos editais? Ahhh! Os editais!!! Das maledicências, tão bem citadas por Fernando Cocchiarale ontem? De nossos ocultos preconceitos? Da nossa mania de formar panelas? Da EAV do Parque Lage e sua "sub-sobrevivência" nos últimos dez anos? Do IPHAN? Do Paço? Dos novos, não dos jovens apenas, artistas? E tantas outras coisas....

Saí rapidamente com meus amigos, meio envergonhada de mim mesma.. Falar de que? O que tinha sido eleito como assunto? Perdi o começo. Será que foi ali?

Fomos jantar e ver chegar ao restaurante uma grande mesa, esta sim, bastante falante da arte. Vindoura do evento, lá estava, eleita, aprovada.

E continuo por aqui, com meus monólogos de artista-sem-diploma, mais mergulhada em meu trabalho próprio. Não sei se agrado, se agravo, nem o que desperto, mas continuo tentando (e espero nunca conseguir) aprender que nesse meio, o certo é calar, para das certas vinganças e possíveis exclusões futuras, se livrar.


Clarisse Tarran

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