14.8.04

A Manhã Espera.

Era cedo demais para estar ali. Sua pontualidade valeria a pena se não tivesse esquecido as chaves e pudesse surpreendê-lo com pão fresco e café quente antes de um dia clichê-exaustivo. Ficou ali parada, aguardando que as janelas se abrissem ou a porta se destrancasse.

As pessoas que passavam eram sempre as mesmas de todos os dias, como são todas as pessoas que vivem ao redor das praças. Sendo forçada a observá-las atentamente, naquela prisão de espera, ela pôde concluir algumas idades, seus gêneros, suas aparentes aparências. A grande praça central estava também aprisionada, em imensas e extensas grades verdes, como ela ali estava. Toda sua beleza só podia ser visitada em horários diurnos pré-estabelecidos, sob o olhar vigilante de seguranças públicos. Sua essência de praça-liberdade não podia mais transbordar para o urbano triste da cidade.

Ela olhou para as grades das grandes janelas da casa que não podia acessar pensando em seu gato faminto. Muitos minutos além de um atraso haviam se passado. Os bancos da praça eram distantes como as escadas do casarão trancado. Um senhor passou resmungando algo que poderia ser o auto convencimento de que ela não estava ali naquela esquina, disponível para uma subidinha no Hotel Paris. Sua bolsa de rosas de couro lhe imputavam um preço alto e protetor.

Em segundos, a luz dourada de manhã, mudou para um tom mais pálido e quente. Todos os visitantes do dia chegaram juntos. Ele surgiu pequenininho no fim da praça que se abria em imensos e opostos portões diagonais, arrastando em leque atrás de si toda e invejável libertina liberdade. Havia em seu sorriso pleno de noite ilícita, o frescor da barba feita e o hálito de café morno e alheio.

Ela escondeu a sacola com os pães frios no seu melhor sorriso triste e amarelado. Olhou para sua própria alma de praça e se sentiu sozinha novamente.

C. Tarran ou V. Noir - ainda não sabemos

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