14.8.04

O Silêncio é um Eunuco

O silêncio é um eunuco
De pé, intransponível, inalcançável
Estátua carnal, desencarnada.
Para o qual cito preces, para o qual minha alma cala.

O silêncio é um eunuco,
De sal, de fel, de preciosos cacos
Tecendo vísceras felinas,
em mim, em mim bordadas.
Condenando-me à espera,
nessa roca pueril, rota abandonada.

O silêncio é um eunuco
Pelo qual luto. De Luto.
De negro, de armas, amarras,
Lâmina, lábios, nada fere, nada abala.

Eunuco, me guarda, nada move,
eunuco sem tara.
Nada possui, nada, para mim, nada.

Eunuco aqui dentro, lá fora,
arma desembainhada,
em riste, de pronto, generosa, desfraldada.
Eunuco que ri, de mim aprisionada.
Em silêncio eunuco, por ti aprisionada.


Clarisse Tarran - agosto 2004

Nenhum comentário: